Introdução

Mãe de 3 filhos (Rodrigo, Philippe e Fernanda), avó (quatro netas: Eduarda, Mirela, Luna e Laura), Supervisora Educacional, Profª aposentada de Língua Portuguesa e Literatura Brasileira; Pedagoga e Pesquisadora, Graduada em Letras e Pedagogia e Pós-Graduada (Especialista em Língua Portuguesa e Iniciação Teológica); Mestre em Letras e Ciências Humanas. Trabalho muito, estudo bastante, adoro pesquisar, ler boas obras; folhear jornais e revistas, assistir telejornais; viajar, ir ao Shopping, utilizar a Internet. Crio algumas "quadrinhas", gosto de elaborar projetos que não sejam engavetados.

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quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

O machismo feminino

* Encontrei esse assunto em: http://jeniffersantos.tumblr.com/post/2670320156/o-machismo-feminino


Coluna Malu Fontes publicada em 09 de janeiro de 2011; jornal A Tarde, SSA/Ba Caderno Revista da TV



*Malu Fontes *é jornalista, doutora em Comunicação e Cultura e professora da
Facom-UFBA. Texto publicado em 09 de Janeiro de 2011 no jornal A Tarde,
Salvador/BA. maluzes@gmail.com

Há uma semana, tomou posse a primeira mulher brasileira eleita para a
Presidência da República. Nas primeiras horas do Governo Dilma Rousseff,
nove mulheres assumiram ministérios, ocupando um quarto do primeiro escalão,
25% das indicações mais importantes. No entanto, a personagem feminina que
mais chamou atenção dos meios de comunicação não foi nenhuma dessas
mulheres, mas uma moça até então desconhecida, até mesmo para a maioria dos
habituais telespectadores do noticiário público. Após ser exibida pelas
câmeras de TV que transmitiam a posse para o Brasil e o mundo, Marcela
Temer, uma mulher de 27 anos, bonita e casada com o vice-presidente da
República, Michel Temer, tornou-se, para usar um termo usado e repetido pela
imprensa durante a semana, o grande ‘furor’ da posse de Dilma Rousseff.


Para além da repercussão, sempre em tons de imprensa cor-de-rosa, gerada
pela associação entre os dotes físicos de Marcela, uma ex-miss, e seu
casamento com um homem poderoso e 40 anos mais velho, o que ficou
escancarado em 11 de cada 10 comentários emitidos a respeito da
vice-primeira dama foi a proximidade grosseira entre o machismo arraigado
dos homens brasileiros e o das mulheres, de todas as idades, classes sociais
e áreas de atuação. Se há um território fértil e propício, hoje, à análise
das repercussões e dos desdobramentos dos fatos veiculados na TV, são as
redes sociais, acompanhadas de blogs e congêneres. O que não quer dizer, de
modo algum, que, neste caso, os grandes portais de notícias, tidos como mais
sérios e profissionais, não tenham também mordido a maçã da maledicência e
da vulgaridade e dedicado a Marcela os mesmos adjetivos e trocadilhos
derrapados na condenação moral.

Marcela tem 27 anos e há sete está casada com Michel Temer, com quem tem um
filho caminhando para os dois anos. Ou seja, não deu o golpe da barriga para
casar e nada a associa a uma doidivanas de ocasião que, diante do poder à
vista, caiu na rede do coroa que aqui e ali sentará na Presidência da
República. Nesses sete anos, pelo que se saiba, nunca foi vista expondo sua
figura na Medina (sim, O Clone está de volta), nem tampouco arrastando seu
sári no mercado (Glória Perez, idem, em Caminho das Índias). Mas bastou
aparecer diante das câmeras no Parlatório da Posse e na Rampa do Palácio,
durante a solenidade de posse de Dilma e Temer, para Marcela se tornar o
alvo irresistível de um corolário de julgamentos morais para lá de
demonizadores.

*FORA DE FORMA* - Se durante esta semana algum brasileiro não viu ou ouviu
qualquer referência a Marcela Temer, certamente estava ilhado nas enchentes
da Austrália. Apareceu de tudo na TV e na Internet. De fotógrafa oportunista
querendo ganhar uns trocados com fotos de desfile de concurso de beleza
quando ela não passava de adolescente, a jornalistas e atrizes-modelos a
destilarem veneno contra a moça. A jornalista Mônica Waldvogel, uma das
papisas do tucanato ainda desconsolado, da GloboNews, escreveu em seu
twitter que Marcela estava muito mal vestida e deselegante para a ocasião.
Beth Lago, um tanto fora de forma para quem preza tanto a dos outros, em uma
conversa de comadre com a eternamente jovem e irretocável Ana Maria Braga,
levou intermináveis minutos aplicando a Marcela condenações estéticas que
tornaram as de Waldvogel elogios de primeira grandeza.

Após uma semana diante da imagem de Marcela na TV, e, diga-se, de nenhuma
aparente disposição inicial dela para alimentar o circo montado à sua
revelia em torno de sua imagem (sim, os produtores do Fantástico devem estar
negociando as mães para Patrícia Poeta ser recebida pela vice-primeira dama
no Palácio do Jaburu, a residência oficial dos vices-presidentes), e diante
das repercussões nos jornais e nas redes sociais, o que se tem, de concreto,
é uma lição e tanto sobre os modos de manifestação do machismo masculino
(era para ser redundante, mas, neste caso, não é) e feminino.


*MERCADO DAS CARNES *- As mulheres não perdoam Marcela por ela ser jovem,
bela e casada com o um homem poderoso. Se ela tem tudo isso, claro, precisa
ser automaticamente descompensada do ponto de vista moral: tem isso porque é
uma vendida imoral, uma alpinista social, a típica *social climber*,
insinuam todas, quase em uníssono. Os homens, em seus elogios sexuais de
morcego (assopram e mordem), sobretudo os mais jovens e menos endinheirados,
já que a desejam e não podem tê-la, a ela se referem como a gostosa, mas ao
mesmo tempo como uma caçadora de velhos poderosos e, consequentemente, uma
mulher do tipo comprável por um bom dinheiro idoso no mercado das carnes
humanas, exclusivamente por seu potencial erótico-estético e por sua
jovialidade e beleza.

As mulheres belas e jovens somente serão perdoadas e redimidas da
imoralidade que o machismo imprime sobre elas, sobretudo o machismo
feminino, se fizerem votos de castidade e pobreza e dedicarem-se ao
borralho. Ou se elegerem como parceiros amorosos personagens bíblicos,
feridentos, andarilhos e maltrapilhos, preferencialmente eunucos a quem
serão fiéis por toda a vida. Ah, a inveja é um sentimento que sabe
travestir-se de moralidade que é uma beleza.


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