Introdução

Mãe de 3 filhos (Rodrigo, Philippe e Fernanda), avó (quatro netas: Eduarda, Mirela, Luna e Laura), Supervisora Educacional, Profª aposentada de Língua Portuguesa e Literatura Brasileira; Pedagoga e Pesquisadora, Graduada em Letras e Pedagogia e Pós-Graduada (Especialista em Língua Portuguesa e Iniciação Teológica); Mestre em Letras e Ciências Humanas. Trabalho muito, estudo bastante, adoro pesquisar, ler boas obras; folhear jornais e revistas, assistir telejornais; viajar, ir ao Shopping, utilizar a Internet. Crio algumas "quadrinhas", gosto de elaborar projetos que não sejam engavetados.

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sábado, 3 de abril de 2010

Meu encontro com Barbara Freitag

* (Clique na foto para ampliar)



Conhecia Barbara Freitag através de alguns artigos e algumas de suas obras:

1- Teorias da Cidade,

"que apresenta um panorama multidisciplinar que abrange 500 anos de reflexão sobre as cidades do velho e do novo mundo, em que historiadores, filósofos, sociólogos, geógrafos, arquitetos e urbanistas têm voz e vez. Nos capítulos iniciais, Barbara Freitag se debruça sobre quatro escolas do pensamento urbano: a alemã, a francesa, a inglesa e a americana, fazendo uma seleção de autores que, de diferentes ângulos, discutiram o surgimento, a estrutura e as funções das cidades do mundo ocidental. Já no quinto capítulo é discutida a repercussão que essas teorias tiveram no Brasil e como aqui se absorveu e renovou o esforço teórico e prático de encarar a cidade moderna e pós-moderna. Por fim, no último capítulo, a autora recorre ao conhecimento acumulado no debate sobre as teorias da cidade para estudar o fenômeno da megalopolização de quatro cidades latino-americanas: México, São Paulo, Rio de Janeiro e Buenos Aires, fazendo coro com o relatório da ONU sobre a "favelização" e a "periferização" de boa parte das cidades do mundo".

E também da obra:

2- O Livro Didático em Questão, que apresenta-nos

"o estudo do livro didático a partir de várias óticas - a histórica, a política, a econômica, a lingüística, a psicopedagógica e a ideológica, incluindo a ótica dos usuários do livro (o professor e o aluno) - deixou claro que a problemática do livro didático se insere em um contexto mais amplo, que perpassa o sistema educacional e envolve estruturas globais da sociedade brasileira: o Estado, o mercado e a indústria cultural."

Uma boa parte dos livros didáticos é feita por teóricos, especialistas na área, mas sem vivência de sala de aula. Muitos desses especialistas desconhecem os processos de construção das etapas que a criança ou o jovem têm que passar para chegar aos conceitos. Atualmente, professores têm sido autores de livros didáticos. Além disso, a maioria dos livros atribui grande importância às técnicas operatórias, e reúne uma quantidade imensa de exercícios e problemas (em geral cansativos e repetitivos), visando somente à mecanização do conteúdo. Nesses casos vale lembrar que a ênfase na aprendizagem, por meio de problemas-padrão e exercícios com respostas fechadas, afasta a criança ou o jovem do prazer da descoberta.
Os editores nunca foram responsáveis pela má qualidade dos livros didáticos produzidos no país. As empresas oferecem ao mercado o produto solicitado. As críticas de pesquisadores da educação que consideram a produção imprópria, de modo geral, surgem de concepções que pretendem um modelo ideal. Mas, os livros são produzidos dentro de realidades concretas, pois eles destinam-se a uma proposta de ensino massificadora, a alunos com lacunas de conhecimentos e a professores com uma inadequada formação (inicial ou continuada) e submetidos a precárias condições de trabalho docente.


A obra de Freitag et alii (1989) apresenta o Estado da Arte do livro didático no Brasil, com base em alguns pressupostos e metodologia. Um dos pressupostos é o de que o estudo do tema livro didático não pode ser feito isoladamente, sem se considerar o debate internacional. Outras questões a serem consideradas é a discussão sobre o livro didático no contexto do sistema educacional, da sociedade global e também da produção cultural e literária, especialmente destinada ao público infantil e juvenil.
O levantamento dos autores engloba produções sobre cartilhas, textos de leitura e livros didáticos para o Ensino Fundamental. É importante dizer que se concentra na
produção de um determinado período, aproximadamente os anos de 1964 a meados de 1987. Por essa razão, seria interessante e de muita relevância se os mesmos autores ou outros pudessem prosseguir com o levantamento, envolvendo pesquisas posteriores, especialmente que abarcassem o Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), criado em 1985.


Principais tópicos e vertentes de análise:

1. O histórico do livro didático
2. A política do livro didático (Estado)
3. A economia do livro didático (Estado e mercado)
4. O conteúdo do livro didático (Ideologia; conteúdo originado das ciências de referência;
preconceitos e estereótipos)
5. O uso do livro didático pelo professor e pelo aluno
6. O livro didático em seu contexto.


Finalmente, aos 30 de março de 2010, conheci pessoalmente essa grande escritora na Livraria Travessa, no Shopping Leblon, onde Freitag autografava sua mais recente obra:

"Capitais Migrantes e Poderes Peregrinos: O Caso do Rio de Janeiro."

Na ocasião, pudemos trocar algumas palavras onde tive oportunidade de dizer a ela que era Mestranda em Letras e Ciências Humanas, pela Unigranrio, e que minha dissertação aborda sobre a obra didática e que um dos livros de minhas referências era O livro Didático em questão, ao que ela respondeu:

"Escrevi essa obra há algum tempo. Alegro-me que a ajude em suas reflexões. Atualmente abordo um pouco mais sobre crítica da cultura, cultura urbana, cidades, pensamento social e filosófico e arte cultura. Mas, é importante destacar que a cidade também educa!"

A obra que adquiri, com autógrafo da autora:



Na foto não dá para ler, mas está escrito o seguinte: "Terezinha, colega pedagoga, espero que goste da leitura deste texto do Rio como 'cidade educadora'. Abraço afetuoso, Bárbara Freitag. Rio, 30/03/2010."

* Também, na oportunidade, pude estar com ilustres imortais da Academia Brasileira de Letras, a Diretora da Casa Rui Barbosa, várias pessoas ligadas ao meio jornalístico e as adoráveis companhias, de longa conversa, com duas irmãs de Barbara Freitag: Helen Freitag e Carol Freitag. Conversamos sobre vários assuntos e constatamos gostos em comum, especialmente, o carinho por um local em Nova Friburgo, no RJ: Lumiar!

Perfil de Barbara Freitag

Por: Maria Francisca Pinheiro Coelho

Doutora em Sociologia, Pesquisadora Associada do Departamento de Sociologia da UnB. E-mail: coelho@unb.br

Bárbara Freitag Rouanet nasceu em Obernzell/Baviera, na Alemanha, no dia 26 de novembro de 1941.Freitag emigrou com a família da Alemanha para o Brasil em 1948, com sete anos, e constituiu sua formação acadêmica no trânsito entre os dois países.

Fez o curso primário e o secundário no Brasil e a graduação e a pós-graduação na Alemanha. No Brasil, estudou no Colégio de Itajubá, em Minas Gerais, e no Colégio Farroupilha e no Colégio Júlio de Castilhos, no Rio Grande do Sul. Voltou para a Alemanha em 1961 e cursou a graduação em Ciências Sociais na J. W. Goethe Universität/Frankfurt/M., o mestrado em Sociologia e Psicologia na Universidade Livre de Berlim e o doutorado na Universidade Técnica de Berlim.

Em Frankfurt, foi aluna de Adorno e Horkheimer por três semestres, a partir de 1962. Em 1967, defendeu sua tese de mestrado sobre Gilberto Freyre, Celso Furtado e Florestan Fernandes, e, em 1972, o doutorado sobre Política Educacional Brasileira. Tornou-se uma brasilianista e latino-americanista na Alemanha e também uma teórica da Escola de Frankfurt, tendo participado dos fervorosos embates na universidade em 1968. Depois que concluiu seu doutorado, recebeu um convite de Florestan Fernandes para lecionar no Brasil. Florestan foi o mediador de seu retorno ao país. Em várias visitas à Alemanha, ele havia insistido para que ela voltasse. O contrato com a Universidade de Brasília foi assinado em julho daquele ano. Ao encontro com Brasília e com a UnB somou-se um outro, com o filósofo e diplomata Sérgio Paulo Rouanet, com quem casou e tem uma filha, Adriana, de 29 anos.

A tese de doutorado foi publicada no livro Escola, Estado e Sociedade, que teve grande repercussão no país. O livro incomodou os militares, porque trazia uma abordagem transformadora da escola. Barbara mostrou que se a instituição escolar pode ser vista, segundo Althusser, como uma instância de reprodução da ideologia dominante, é mais do que isso, porque contribui para superar os déficits cognitivos no desenvolvimento psicogenético das crianças de classe baixa. A importância da escola foi analisada em outros livros, como o Diário de uma Alfabetizadora, no qual defendeu que a alfabetização não é apenas domínio de uma técnica, mas também condição necessária para que a pessoa utilize sua capacidade de pensar e para que veja o mundo segundo as categorias do pensamento lógico.

A formação intelectual de Barbara perpassa uma grade tríplice: a educação, a Psicologia e a Sociologia. Sua dimensão de educadora está estreitamente ligada aos estudos de Psicologia. Plenamente consciente da importância de integrar a teoria psicanalítica na reflexão sociológica, Barbara ministrou vários cursos sobre Freud. No campo da Psicologia dedicou-se, primordialmente, ao estudo da psicogênese piagetiana. Sua vocação de psicóloga aparece em pesquisas sobre a psicogênese infantil, baseadas na teoria de Piaget, a partir de estudos empíricos feitos em escolas e favelas paulistas. Nesses trabalhos, demonstrou que existe uma defasagem entre o desenvolvimento cognitivo e a competência moral e lingüística das crianças de classe baixa e as de classe média, entre as crianças escolarizadas e as não-escolarizadas.

Contudo a dimensão central na formação intelectual de Barbara Freitag é a sociológica. A educação só pode ser entendida sobre o pano de fundo de tendências macrossociológicas. O estudo da psicogênese infantil tinha como objetivo proporcionar à criança instrumentos que permitissem superar bloqueios derivados das contradições de classe. Como socióloga, Barbara parte do princípio da unidade entre teoria e prática e por isso se dissocia da sociologia positivista que parte da existência de um observador neutro. Daí a importância que ela atribui ao marxismo, enquanto instância capaz de compreender e transformar o mundo, porém seu marxismo nada tem de ortodoxo.

Barbara tem afinidades especiais com a Escola de Frankfurt, que aborda a realidade a partir de um marxismo flexível, a teoria crítica, oposta a qualquer forma de dogmatismo. Dentro da Escola de Frankfurt, tem interesse particular por Habermas, que procura integrar os ideais emancipatórios do Iluminismo, inclusive os defendidos pelo marxismo, em um novo paradigma intersubjetivo e radicalmente democrático. Entre seus muitos livros, tem lugar de destaque Teoria Crítica: Ontem e Hoje, de 1994.

Nos últimos anos, Freitag tem-se dedicado ao tema das cidades, um campo específico e ao mesmo tempo múltiplo. Para ela, a cidade é mônada, no sentido de Walter Benjamin, metonímia, figura síntese da sociedade, para onde convergem todas as linhas de força do mundo moderno e pós-moderno. Cidade é história, geografia, arquitetura, pintura, literatura. Cidade é urbanidade, que vem de urbes, é política, cuja raiz é a polis, e é cidadania, cuja raiz é civitas. No tema da cidade, Barbara se encontrou, porque nele pôde juntar todos os fios de sua vida e de seu pensamento. Barbara é um pouco Berlim e um pouco Brasília, alemã e brasileira. Poderíamos chamá-la de cidadã do mundo. "Os conceitos políticos se baseiam na pluralidade, diversidade e limitações mútuas. Um cidadão é, por definição, um cidadão entre cidadãos de um país entre países", mencionou Hannah Arendt (1987, p. 75) em ensaio sobre Jaspers.

A identidade de Barbara com a UnB é tanta que os seus discípulos na instituição são chamados de "barbaretes". Ela esteve vinculada ao Departamento de Sociologia de 1972 a 2003, quando se aposentou e se tornou Pesquisadora Associada. É professora titular do Departamento desde 1988. Lecionou também em universidades estrangeiras, entre elas a Universidade Livre de Berlim. Foi professora visitante de várias universidades brasileiras: a Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, em 1979; a Universidade Federal de Sergipe, em 1979-1980; a Universidade Federal de Minas Gerais, em 1985; a Universidade de São Paulo, em 1989; a Universidade Estadual de São Paulo, em 1990; a Universidade Federal da Bahia, em 1995; e a Universidade Estadual do Rio de Janeiro, em 1998-1999.

Ao todo Barbara Freitag escreveu 27 livros, de sua autoria ou por ela organizados, alguns publicados no exterior; 34 artigos publicados em coletâneas e revistas no exterior; 52 artigos publicados em coletâneas e revistas brasileiras; e diversos trabalhos de tradução, principalmente do alemão para o português.

Em 2005, ela foi homenageada duplamente pela UnB. Além do lançamento do livro Itinerários de Barbara Freitag, pela editora da universidade, o Instituto de Ciências Sociais encaminhou ao Conselho Universitário parecer solicitando que lhe fosse concedido o título de Professora Emérita. O título é conferido ao docente aposentado na Instituição, que tenha alcançado uma posição eminente em atividades universitárias. O sentimento dos que organizaram e participaram da jornada na UnB foi dos mais nobres: honrar uma colega pela sua dedicação integral à vocação acadêmica.



Referências bibliográficas

ARENDT, Hannah. Karl Jaspers: um cidadão do mundo? In:_______. Homens em tempos sombrios. São Paulo: Companhia das Letras, 1987.

ROUANET, Sérgio Paulo; SOUSA, Nair Heloísa Bicalho de; COELHO, Maria Francisca Pinheiro (Org.). Itinerários de Barbara Freitag. Brasília: Editora Universidade de Brasília, Finatec, 2005.

Um comentário:

Márcia disse...

Estou encantada ao deparar-me com seu blog.Lerei calmamente e meditarei nos seus escritos que me parecem ser de grande valia. Parabéns!