Introdução

Mãe de 3 filhos (Rodrigo, Philippe e Fernanda), avó (quatro netas: Eduarda, Mirela, Luna e Laura), Supervisora Educacional, Profª aposentada de Língua Portuguesa e Literatura Brasileira; Pedagoga e Pesquisadora, Graduada em Letras e Pedagogia e Pós-Graduada (Especialista em Língua Portuguesa e Iniciação Teológica); Mestre em Letras e Ciências Humanas. Trabalho muito, estudo bastante, adoro pesquisar, ler boas obras; folhear jornais e revistas, assistir telejornais; viajar, ir ao Shopping, utilizar a Internet. Crio algumas "quadrinhas", gosto de elaborar projetos que não sejam engavetados.

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sábado, 15 de janeiro de 2011

MEU CONTATO COM A MÚSICA ERUDITA - Vivaldo Lima de Magalhães

Às vezes, nos sentimos impelidos a falar de amenidades. Principalmente nos momentos de armistício, que é uma pausa entre duas guerras. Verdadeiramente, há quem afirme que o mundo nunca experimentou um instante sequer de paz. Nos momentos de trégua deveríamos aproveitar a oportunidade para refletir e fazer uma reciclagem do nosso acervo mental para eliminar o lixo poluidor. Meditar, relaxar e ouvir uma boa música, seria o ideal, mas na prática, enquanto estivermos mergulhados em problemas de toda ordem, isso é muito difícil. Concordo com os que afirmam que a música, em todos os sentidos, deveria estar presente em tempo integral na vida das pessoas. Além da energia que transmite, é uma verdadeira terapia para corpo e alma.
Diz o poeta que "a vida é combate, que os fracos abate, os bravos e fortes só pode exaltar..." Com outras palavras, Ary Barroso fala da mesma coisa quando afirma: "A vida é uma escola onde a gente precisa aprender a ciência de viver pra não sofrer..." Enquanto isso vai-se vivendo e aprendendo. Sair um pouco dessa "roda viva", descansar, ir à praia, ouvir música, aliviar o stress.
Não sou um estudioso da música erudita. O Álvaro encontrou no amigo Oderfla o seu maior incentivador para despertar o interesse pela música clássica. Essa empatia trouxe-lhe à tona um sentimento que lhe era inato. Como aficionado da música erudita, apreciador dos grandes compositores, o Álvaro nunca desprezou essa fonte para compor personagens e “trilhas sonoras” em seus trabalhos literários.
No meu caso, comecei a me interessar por esse gênero de música, assistindo operetas com os atores-cantores Nelson Eddy e Jeanette Mac Donald no cinema, nos anos 50, reprises de filmes produzidos nos anos 30 e 40, que meus pais apreciavam muito. Gostava também de assistir filmes que retratavam a vida dos grandes compositores, a exemplo de Strauss, Chopin, Paganini, Liszt e outros. Após as sessões cinematográficas eu ficava rememorando as músicas tocadas nos filmes, a semana inteira, possuído por um verdadeiro estado de graça. Lembro que num filme sobre a vida de Johann Strauss Jr, o personagem, percorrendo os bosques de Viena numa carruagem, buscava inspiração para compor uma valsa. Depois, feliz por ter concretizado o seu trabalho, passou a cantarolar e a reger na própria atmosfera do bosque que naquele instante lhe servia de inspiração e/ou estímulo.
A mensagem que a música clássica me passa vem mais da minha sensibilidade e da emoção que do conhecimento. A falta de oportunidade e a minha incapacidade de percepção dos detalhes que compõem a obra de um autor, em todos os seus aspectos, me impedem de fazer qualquer tipo de comentário crítico com profundidade e discernimento. Precisaria de algumas aulas ou mesmo um curso completo de música.
Quando cursei o 1º grau na Bahia, estudei a disciplina “Canto Orfeônico”, onde aprendi a solfejar e ter noções de teoria musical. Aprendi também a confeccionar pautas musicais, tendo como base os ensinamentos de Guido D’Arezzo, monge italiano que viveu no início do séc. XI, e que deu nome às notas na escala musical. Tudo isso para mim foi inútil. Eu esperava coisa melhor, porque tinha a pretensão de tornar-me um violinista. Não havia instrumentos musicais na sala de aula, e as aulas teóricas, com o passar do tempo, foram ficando cada vez mais insuportáveis. O filme que assistira sobre a vida de Paganini me empolgou bastante. A imagem do personagem executando o “Mótuo Perpétuo” ficou retida em minha mente por muito tempo. Aproveitava todas as oportunidades quando me encontrava a sós para imita-lo. De posse de um violino imaginário, começava a executar, em minha fantasia, o Mótuo Perpétuo, girando pelos quatro cantos da casa, me estendendo pelo quintal e retornando ao ponto de partida. Para a realização desse sonho eu teria que estudar num conservatório de música, mas naquelas circunstâncias não havia nenhuma chance para a concretização desse sonho, que se tornou impossível...
O rádio era outro veículo - além do cinema - que me permitia a ouvir música clássica. Em minha casa não havia toca-discos. Às vezes eu escutava o tio Rubem, ao violino, tocar algumas valsas. Ele nunca estudou música, tocava de ouvido e só aparecia lá em casa nos dias de folga. Naquela época, durante a 2ª Guerra, servindo como sargento do Exército, estava sempre de prontidão.
Só comprei o meu primeiro toca-discos em 1962, na Cássio Muniz. Foi quando tive a oportunidade de adquirir os LPs de Ray Coniff, Billy Vaugn, Bert Kempfert, Don Costa, Glenn Miller e outros. Os discos de músicas clássicas eram muito caros para o meu padrão de consumo. Limitava-me a ouvir os clássicos através das rádios MEC e JB, em horários especiais. Não era em qualquer loja que a gente encontrava discos clássicos. A loja mais conhecida era a Palermo, que ficava no Largo da Carioca, próximo à Rua Gonçalves Dias. Ali se encontrava quase todos os gêneros de música, inclusive de intérpretes internacionais.
Quando entrei para a Faculdade Nacional de Filosofia - Fnfi, a maioria de meus colegas apreciava a música erudita. Não havia como deixar de me inserir neste contexto. Então procurei, ainda que superficialmente, ler tudo sobre música erudita. Assim eu poderia ter um mínimo de conhecimento para trocar ideias e emitir opiniões sobre o assunto, diante de colegas com conhecimentos muito mais avançados. Foi o amigo Arquimedes, ex-colega de faculdade, quem me indicou as discotecas da Maison de France, e do MEC, que emprestavam discos ao público interessado em músicas eruditas. Na Maison, tive a oportunidade de pegar por empréstimo obras de Debussy, Ravel e Chopin, quando pude então apreciar com maior tranquilidade essas preciosidades, em meu quarto, no Méier, num estéreo portátil, comprado na loja Rei da Voz, da Senador Dantas. O Eugênio, amigo do Arquimedes, também teve, de certa forma, influência nestes meus contatos e envolvimento com a música clássica. Nessa época passei a frequentar, em companhia desses dois amigos, o Municipal - de paletó e gravata -, o que era obrigatório para assistir os espetáculos programados naquele teatro.
Se o Álvaro se inspirou no Oderfla para passar a gostar da música erudita, para mim foram Eugênio e Arquimedes que tiveram um papel importante na obtenção de conhecimentos de obras de compositores que anteriormente só conseguia ouvir fragmentos. Atualmente, quando eu ouço alguma música clássica,  consigo identificar  alguns autores que tiveram  suas obras mais divulgadas e chegaram ao alcance do público.  A música clássica que me deu uma grande emoção, certamente, não foi a primeira que eu tivesse ouvido. Mas, com toda certeza, foi “Pavana por uma princesa morta”, de Ravel. Eu tinha na época uns dez anos de idade. Não sabia o nome da música e, menos ainda, o de seu compositor. Essa música fazia parte da trilha sonora de uma rádio-novela, que também não me lembro qual era.  Pavana me fazia mergulhar numa espécie de melancolia benfazeja, deixando-me por longo tempo introspectivo, meditabundo. Ainda hoje, quando tenho a oportunidade de ouvi-la, sinto a mesma sensação.

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