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“Nunca deixei de estar submetido à pressão simultânea de duas idéias contrárias e que me parecem ambas verdadeiras, o que me leva ora a ir de uma a outra, segundo as condições que acentuam ou diminuem a força de atração de cada uma, ora a aceitar como complementares essas duas verdades que, no entanto, deveriam logicamente se excluir uma à outra. Tenho ao mesmo tempo, o sentimento da irredutibilidade da contradição e o sentimento da complementaridade dos contrários. É uma singularidade que vivi, primeiramente admitida, depois assumida, enfim integrada.
(...) A presença permanente das contradições tem em mim um caráter ao mesmo tempo existencial e intelectual; órfão, vivi a contradição entre desesperança e esperança; autodidata, eu era naturalmente aberto aos argumentos contrários; ‘neo marrano’, senti no mais íntimo de mim mesmo o enfrentamento de verdades que excluiam. Por todas estas razões singulares que se entre-reforçaram, tornei-me um homem qualquer (subdeterminado, não especializado) que traz em si as contradições essenciais da condição humana.
(...) Assim, mais do que nunca e plenamente, vivo, submeto-me e me alimento da dialógica permanente entre fé e ceticismo, misticismo e racionalidade. O trabalho das contradições contínua. Eis sua consequência existencial: Viver no duelo dos contrários, isto é, nem na duplicidade sem consciência nem no ‘justo–meio’, mas na medida e na desmedida; não numa resignação morna, mas na esperança e no desespero, não num vago tédio ou num vago interesse da vida, mas no horror e no maravilhamento.”
(Edgar Morin, in “Meus Demônios”)
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